sábado, 27 de novembro de 2010

Dos dias curtos que tenho
Esse foi o mais longo
O que mais estava perto
O que mais te senti distante.
O carro estacionado
À espera do chá
Olho pelo retrovisor
Alguém passando
Ao fundo vejo o pôr-do-Sol, afogando no Parnaíba
Aplausos...

O mais lindo presente que pude receber hoje.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Um dia quente, ensolarado
Um céu azul
De onde estou
Vejo apenas pés
Que passeiam pelo corredor
Num vai-e-vem sem fim
A pressa do dia deixa rastros
Anuncia que a hora se termina

Tic tac, tic tac

De repente, o tempo fecha
Um leve sabor de chuva paira
Olho pela janela
Apesar das grades
Me sinto feliz.

Retomo às letras
mas me falta inspiração.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

[ontem à noite]

Hoje, ofereceram-me a Lua
Delicadamente, aceitei
Deitei-me ao relento e embebi-me com o singelo véu fluorescente que abraça o céu

Festejei sob seu manto
Tantas vezes, declarei-me apaixonada, ajoelhada a ela
Hipnose

Saí correndo à esmo
Em busca da tua escada
Subir, voar, chegar a ti
Gritar aos ventos
Até o Sol se enciumar
O quanto me fascinas

Despertou-me para o Adeus
Beijou-me frio
Como quem banha no orvalho do novo dia

Apenas ri
: Adeus.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Insônia
Incenso
Insesato amor
Incessante busca por caminhos incertos
Cálida, náuseas
Meu tempo ensolarado que nunca passa
Dores no corpo
Tua vida me exala
Insana
Ressacada das noites que nunca vêm e se vão
A mente bóia num copo de conhaque
Bêbada nos porquês
Outro beijo, teu calor me chama outra vez
É chama que arde e que vejo!
É ferida que doi e que sinto!
É descontentamento por estar descontente
Sem nexo
Anexo
Desconexo
Cem sexos
A alma nua à mercê do azar
Eu te bebi devagarzinho, te saboreando
Você encheu-se a cara feito whisky
Vomitou-me e esqueceu-me
Que tontura...
Que tortura!
Só minha alma Sente
Só meus olhos provam
O gosto acre da derrota
Ao tocar a insipidez dos seus lábios

[na chave]

Entro no meu quarto
Travo a porta
Pego minha caixa de Pandora
Lá estão todos os meus segredos
Meus mortos e meus medos
Abro-a
Mas não as deixo sair,
Assim, todos saberão quem eu sou
Penetro-a
Embalo no mesmo frenesi de casa sentimento que ali reside
Passeio entre lembranças
Aconchego-me nas saudades
Permito-me, entrego-me, fascino-me
Até que sufoco-me naquilo que tinha esquecido
Meu barco na maré alta
Seu vulto insosso
Tua imagem salobra na minha língua
Dou dois passos para trás
A escuridão me suga
E me vejo presa
Entre linhas e aviamentos
Correntes e correntezas
Até que emerjo de volta ao quarto
Olho à volta, nego as paredes
Pensando estar tudo bem
Tranco a caixa
E retorno aos meus pesadelos.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

[sol sem lua]

Tenho trocado a vida
O samba pelo rock
O real pelo carnal
As noites pelos dias... nem se falam

Tenho trocado os quadrados
Penso até em trocar você
Isso!
Trocarei o chip do meu coração

Uma partitura virgem
Para sonorizar as noites
E as madrugadas também
Por que não os ocasos e os ósculos?
Que espero salivando
Enquanto absorvo o mal que escorre pelo canto esquerdo da sua boca
:
É a culpa!
De tentar dizer Adeus, sem saber dar tchau
E as setas indicam:
Prossiga, moça.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Um ronco na barriga
Um estalo de tesão
Estou com fome de sexo.
O desejo formiga
Sobre à pele de forma fulgaz
Quando tento não pensar
A lascívia me domina
Presa na vontade
Solta na leda
Um baseado e um filme erótico na TV
Fumo o tesão
Mas queria mesmo era laricar você
Chupar até os ossos
Degustar cada curva
Transitar entre a gula e a luxúria
Pecar em vermelho
"Os meus olhos pegando fogo"
Pra disfarçar, um incenso
Mas não adianta
Exalo o cheiro do cio
Que combinado aos meus sorrisos
Denunciam ao mundo:
"Tô a fim de transar."

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Cavalo selvagem

Minhas mãos afundaram-se nas grinas
E quando avançou para mim a lufada de ar
No galope branco
Meus dedos partiram-se dos teus pêlos
E eu aérea sobre a terra contemplei
Pendendo como uma Flor de Papel
Despetalada sobre teus flancos
Amarrotada sob tuas patas
Os vincos como versos
Acomodarem-se nas mãos do poeta.

[Paula A.]

[improdutividade]

Quisera eu pensar em poesias agora
Mas poesias dessas, sabe?
De casais apaixonados
Frufrus enamorados
Coisas de "nhenhenhem", saca?
Só que meu futuro é escuridão
Os passos estão incertos
Meu rio não tem onde desaguar
É a dor
O pesar
O luto!
Sim, meus sonhos estão de luto
Condolências ao meu coração
Há muito só se pinta de negro
Em estado de putrefação
Mas que droga!
Não consigo pensar azul
...
Já se passaram 15 minutos
E esse verso ainda cheira à monocromia:
"- Que se passa?
- Oras, é a ilusão...
- Por que não desenganar?
- Porque não se volta atrás de palavras ditas e lágrimas caídas...
- Verdade..."

Tranco o baú, espero pelo amanhã
Quem sabe eu não morra.

domingo, 7 de novembro de 2010

[tudo o tempo todo]

Abro portas
Fecho olhos
Bato gavetas
Um alucinação incessante
Assim te defino
Exorcizo suas lembranças
Mas como um pêndulo
Teima em voltar
Dou um giro pelo tempo
Atravesso as cinco fases da Lua
Adormeço, me cubro com o véu de estrelas

Tentativas

Investidas em vão

Tomo à respiração e amanheço em mim
Pena que sou você
Assim,
A batida frenética da sua mão
Volta a reinar em meus pesadelos.

Flor do Sol

[procura]

O que vês ao olhar no espelho?
Vejo um rosto pálido
Sem luz
Sem brilho, nem cor
Vejo olhos fundos
Perdidos no vácuo
Um buraco delineado com as curvas do seu corpo

Olho no espelho
Sinto a chuva molhar meu interior
Busco braços
Anseio abraços
A chuva inunda meu rosto

Falta o ar
Falta o chão
Falta você
Falta a verdade
Falta um reflexo

Falta me ligares e dizer
: "Voltei."

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Desatar os nós é difícil
Como cortar os pulsos
E correr um longo caminho com final bifurcado
Que rumo escolher?
Aceitar a solidão,
Ou insistir na negação da negação?
Tanto faz
A corda já está no pescoço
Sinto o ar sufocar
Afogar a velha verdade
A vontade inventada
A verdade fingida
Permaneço estática
Com um sorriso de acessório
Que sempre cai
Como um girassol num dia nublado

Basta pensar em você

terça-feira, 2 de novembro de 2010

[à busca]

Cansei de fingir
Fingir que estou bem
Que sou forte
Que vou superar

Parei com os sorrisos
É tudo uma falácia!
Para que lábios reluzentes, se os olhos não tem alma?

Sorrisos... são pra quem pensa enganar a dor...

Levo dúvidas ao espelho
Me diz o que já sei

Meias verdades são meias mentiras

Delas já estou farta!
Já não me interessam...

Ao pisar firme, caio
Mergulho no vazio
Atraco-me à dor
Ela me devolva à ti
Mas não te encontro

Onde vais?
Por que não senta aqui?
Afaga meus cabelos
Sussurra: "Quero-te..."

Sinto-me tonta
A cabeça gira
Meu peito enche e a garganta trava
Eu solto...
...o choro desce...

Cadê você?
Por que não estás aqui?

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Está chovendo!
Vejam que maravilha
E não são meus olhos
Chuva que lava a alma
Move pedras
Abre caminhos
E arrasta junto essa lembrança que assombra as noites
Molhos meus pés
Sinto o cheiro bom de chuva
Ai...
Vontade de sair correndo na rua
Brincar de chutar água
Voltar a ser criança
Chove chuva!
E mata essa sede de felicidade.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

[Tropeço]

A raiva amostrando-se nos olhos negros
Tropeça na dor
Caindo no esquecimento.

[P.A.]

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Há um lugar mágico
e estive lá
Um lugar onde o ar tem gosto de viver
Viver de amores pelo outro
Pelo novo que acabou de perceber
Abri-me à luz
Encontrei-me em sorrisos
Permiti-me à queda
Encontrei abrigo

Há um lugar único
Que tornou-me forte
Vi a lua afogada em tanto brilho
Que abraçou-me em forma de música
Aquele som que sonhei acordada
Fez-me flutuar
Perseguir meus medos
E curou-me a dor
Até esqueci o que queria esquecer

Deu-me paz
Dai-me mais

Há um lugar em que ser simples fez-me feliz
Fez-me eu

Há um lugar mágico
Que filtra sonhos

Ele existe

Estive lá.

[depois de hoje]

Decidi esquecer você
Rasgar suas fotos
Seus bilhetes
E aquele "Eu te amo" de anteontem

Quem poderia saber
Que todo aquele falsete
Era só imaginação, invenção e ilusão
Inclusive você

De tantos fins
Ei-lo aqui?
Diga-me, responda-me, afirme se sim

Teu rosto, agora, é peça desfigurada em minha memória
Um nada perdido no vazio
Como se todas as lembranças estivessem embaralhadas num quebra-cabeça em forma de interrogação

Pois é, já decici
Fecharei os olhos sempre que por mim cruzar
E se a noite insistir em te trazer
Acordarei o Sol
Pedirei-lhe auxílio
Pra esquecer você

Só não quero mais essa visão
Que queima a retina e machuca o peito
Parece que não passa, não diminui, nem ameniza

Não alimente o que não dá de volta
Não rias de mim
Não faça isso...

sábado, 23 de outubro de 2010

Doces amarguras a vida me traz
Boca seca de tanto esperar
Lábios ressecados
Corpo petrificado
Pensamento inútil que nada de novo translude
Que idiota!
Abre a boca que a verdade salta
Não espere, seus olhos são mudos
Mudos, surdos e cegos

Boca fala

Boca grita

Boca cospe

Escarra sangue no silêncio
E engole de volta cada vogal que passou pelo oco
Que idiota!
Quanta inércia... pois fique aí!
Fique aí de boca aberta
Mofando, morgando e metamorfoseando
Achando que és borboleta
Coitada... sonha em voar alto
Sonha!
Que idiota!
Levanta-te e segue sambando

De mãos dadas com o vazio

Levanta-se e segue sambando.
Santa Cruz levantada
Santa? Não sei...
Cruz? Bem pesada!
Tanto, que chega a ferir-me a alma
E não sara, não cessa
Dor firmante
Como um sino latente
Igual a dor de dente
Badala, badala, badala
Segue o ritmo, meu coração
Respiração curta
Pensamento sem fim
Insistente nos porquês
Cavando respostas, que são tão óbvias
Soluçar cada fracasso
Enterrar todas as lamúrias
E somente esperar que brotem sorrisos dessa terra tão seca.
Duas notas embriagadas
Abafam o som do meu coração
Duas notas invertidas
Uma delas Doída
A outra Solar.

Catorze de outubro

Sinto uma dor
não sei explicar

O corpo ausente
a carne trêmula
a língua dormente

Sinto uma dor
que o corpo não explica

A sensatez padece
a razão enlouquece
a tristeza enfurece
a cabeça repete, repete, repete...

Sinto uma dor
que meu ser não aceita

A adrenalina percorre as veias
de forma tão incessante
que meu coração estagna

Sinto uma dor
como um ponto latejante
piscando meio às entranhas
fingindo uma pulsação

Verdade
Minha pedra insiste em bater

Sinto uma dor
Dói...

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

[agora]

As ondas correm suaves por entre meu dedos
Como fosse tua língua a brincar no céu
Cheiro de sal
Gosto de sol
O som místico da espuma
Tão alva quanto tua pele
Que me deixa saudosa

Desejo parar o tempo
Quando se apossa de mim
Toma-me os gemidos
Arranca-me o gozo
Sacia a sede
Ali, loucura torna-se minha mais sensatez
E quando o dia pari a luz
Aquele que nos aflora
Se torna o divisor

Adeus!
Não mais proferi-la
Degustar o silêncio
E apenas sentir o vai e vem do seu corpo
Como aquelas ondas que ontem lambiam meus pés
- Que calor! Que calor desgraçado!
- Penso em água.
- Beber!
- Vai uma cerveja?
- Que calor essa cidade faz! Olha! Parou de ventar!
- Sim! Uma cerveja rápido!
- Um beque.
- Dois goles me bastam para esquecer o calor.
- E dois tragos, para matar você.

[cinco sentidos]

Nua como a noite
Branca como a lua
Vestida apenas de sol
Como quem esconde atrás do sono
A mão pulsante
Faminta
Detém entre os dentes
E paralisa com o veneno que deixa escorrer pela rubra boca
Incita-me: vem!
Atendo-lhe: vou e não retorno
Ali quero estar
Presa na teia
Segura no calor
Fantasia, sonho e ilusão
Firmo em tua certeza
Creio na veracidade
Fecho os olhos e solto o ar
Sinto o medo, mas também a ti
Não estás só
Tenho o verde
E todas as cores do seu arco-íris.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Um girassol
completamente bêbado de luz
me deu a noite de presente.

terça-feira, 20 de abril de 2010

[distante]

Mostra-me ela
Mostra-se assim
Ora sem medo
Um tanto sem fim
Desvenda-te
Arranque essa máscara
A dor que assola meu peito
Um arranhão no azul infernal
Do verde desses olhos que me esmagam
Atropelam minha lucidez
Engole a sanidade que um dia ousou perfir
Deixa-me atônita
Fora da razão
Desperta desse sono
Entregue à ilusão
Cores, flores, frutos e cinzas
A lembrança presa nos inpensamentos latentes
O oco entupido pelo que não quero crer
É o que me resta
Olhar as mãos vazias
Pô-las sobre os olhos
E tornar abaixo preenchidas por aquilo me fazes de melhor.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

[segredos]

Estás aí
Tão distante de mim
Aconchegante aqui só calor do seu olhar
Esses olhos tão ressacados
Enterrados nas lamúrias de minhas poesias
Frisson
Na firmeza incerta que isso tudo me causa
No aflorar da minha libido descoberta
Vem cá!
Fique aqui, diga que me quer
Mande pra lá essa interrogação
E traga-me as reticências
Deixe-me gozar nesse infinito
E quando ao ápice chegar
Solte ao vento aquelas coisas
Que nos fazem ser nós
Daqueles cegos
Sem volta
Para que o amanhã nunca mais volte a ser ontem
E o hoje retorne sempre ao fim.

[soneto da frustração]

Pinga chuva devagar
Pra essa terra refrescar
Pinga chuva rapidinho
Que o calor tá de matar

O céu grande me aprontou
Quando a chuva preparou
Animado me encontrei
Agora desce de uma vez!

Mas a chuva desbandou
Coitada pra mim
"O tempo fechou!"

E no mormaço vou definhar
Por causa dessa chuva
Que teima em despingar.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

[poema]

Você está em mim
Como flor manifestada
Pra ti não existe tempo
Ele se vai
Se esvai
Foge das mãos
Pra ti estou aqui
Por ti me encontro assim
Estática
Sem tempo
Sem pressa
Sem fim.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

[Flor do Sol]

As flores da vida se escondem
As flores dos dias se ajoelham
Perante a mais linda flor de todas
As flores do mundo se curvam
.
Todas as flores com todos os cheiros
E todas as cores de todos os momentos
Contemplam a beleza máxima
Dessa flor vindas de outros tempos
.
Enquanto a mim? Sou um qualquer
Escolhido apenas para obedecer.
Sou como um peixe num anzol
.
Entregue de presente, me sinto um arrimo
E perante a sua beleza me ínfimo
Tão linda nesse jardim essa Flor do Sol

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

[cara-pálida]

O que queres de mim?
Ao falar assim comigo
Me paralisa com tuas palavras
Rouba-me a voz
Quando insinua teu desejo
Desperta-me
Instiga-me
Esse Poeta que arranca-me longos e encantados suspiros
Aceita-me aí
Como permito-te aqui
Nos meus delírios, onde te ouço pela leitura e te sinto assim
Sem bem saber
És outrora colorido
Como o sorriso de uma criança
Um viajante vagando entre as curvas do meu corpo
Entre as raízes do meu eu
Que me espia pela janela
Com seu olhar dilacera
E leva-me ao longe
Perco-me o azul
Emerjo no seu sorriso
Mais uma noite que por mim clama: índia!
É mais um dia que espero por ti.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

[Na teia da predadora]

Hoje ela chegou de mansinho
Discreta
Reservada
Meus olhos percorreram aquela tez parda
O semblante modesto estampado no rosto
Óculos na face circunspecta
Vestido ajuizado de moça “direita”

Inocentemente, confiei no meu domínio
Poder sobre a mente dela
Minha lascívia, sonhei, era sem paralelos
Vou corrompê-la
Perverter
Adulterar
Chocar
Mostrar este outro mundo que ela não conhece
Vou tê-la submissa à minha libertinagem

No meu anseio incontrolável por prazer
Motivado pelas chamas que tomaram corpo e mente
Abati minhas garras perversas sobre a mente da presa
Uma proposta lancei, em minha concupiscência
Aguardando a óbvia recusa daquela idéia suja
Mas a reveladora sagacidade do sorriso desvendado
A malícia arrebatadora daquele olhar de meretriz no cio
A partir dali eu sabia
Deixei de ser caçador, virei caça
À mercê da libido de uma fêmea irreprimível

De posse de minha mente
Senhora dos meus desejos
Ela me pôs entorpecido
Ludibriou mais uma vítima
Deixou a outra enganada
Julgando que era a única em sua teia
Colocou-me na posição de voyer
Usou a nós dois como objetos
Reféns daquela obscenidade
Consumidos pelo gozo violento
Vê-la se divertindo às nossas custas
A inocência cândida da outra, iludida
E o meu choque, notando do que ela foi capaz
Gravando à ferro e fogo em minha memória
A devassidão daquele gesto

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

[a ninfeta]

Na pronfudeza da inocência
A menina se mostra voraz
De sua tão tenra idade
Emerje um vulcão de que expele desejo
Apêlo por ele
Insanidade fulgaz
De onde não podem fugir
Tampouco camuflar esses olhos negros que, de tão profundos
Fazem esquecê-lo a sensatez
E querer se jogar no abismo que são seus braços
Mergulhar na morenitude daquela tez
Do prazer descrito aos sussurros
Na voz doce de menina-moça
Querendo mais
Pedindo bis
Clamando por ele
"Voltei a ti! Sou sua outra vez!"
Os delírios desse rapaz, tornaram-se concretos
Mas delírios, são delírios.
A realidade mostra-se como luz velada às cortinas
Arde os olhos ao abrí-las
E a candura daquela outra
Desvanda-se em veneno
Abstrai-se em mentiras
Derruba sua fortaleza
Tornando esse homem num recanto de amargura, descrença e solidão
Como nunca quisera ser
E jamais imaginara erguer.

[Furto da cor.]

O vai e vem da cidade
O calor abafado de uma manhã nublada
A pressa das pessoas
À chegar a um lugar desconhecido.

Uma parada na esquina
Um instante prum cigarro
Esse ônibus que não vem...

Nessa cidade onde tudo é verde
Hoje deu uma trégua ao mormaço
Acalentando o ardor do amarelo
Cobrindo minha tristeza de cinza
Refletindo a escuridão do meu interior.

Ouço essa música
Para afundar ainda mais na melancolia
Assim quero estar.

E com isso, a tarde se esvai
Levando a esperança
E, enfim, mais um dia sem cor.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

[a entrega]

No infringível silêncio do meu quarto
No mundo fechado que eu criei pra mim
Acreditei na permanente solidão

Até descobrir a doçura do teu sorriso
A afeição articulada nas tuas palavras
A hipnótica profundidade dos seus olhos
Até você me devorar por dentro
Me escravizar com tua lascívia voraz
Me dominar com o seu desejo de me ter
E me extasiar com teus apelos

Não estava preparado para essa entrega
Mas seu carinho não me dá alternativas
Nem a distância separou nossa paixão
Nem a dúvida cerceou nossas confidências

Não sou mais dono de mim
Entrego-me na volúpia da minha libido
E na inabalável solidez de minha ternura
Molde-me a seu bel prazer
Te aceito em meu microcosmos
Sem ressalvas nem concessões

[cabelim de Mel.]

O menino pulava, corria
Ao subir a árvore do bem
A cada raio solar que iluminava seu rosto, fazia sentir-se um Rei
Suas gargalhadas contagiavam a quem cruzasse
A candura cortava léguas
De longe a sintonia fluia
Estar perto na natureza lhe faz bem
Suas energias se renovam.
O amanhã é a espera de uma nova alegria
E a renovação da esperança de que sonhos são verdades
De que tudo vai ficar bem
e que felicidade não te preço.
A água, o som dos pássaros, o vento levava seus cabelos
E deixava a certeza de que ser criança é a melhor coisa do mundo.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

[a voz]

Como um sonho sem face
A voz da poesia brota em mim
Emudece-me
Quando dizes que me queres
Fecho o olhos
Sei que estás aqui
Como o Sol
Que queima ao tocar-me
Meu corpo incendeia ao pensar em ti
Um desejo pulsante
De tê-lo aqui
Ou de ir até você
Ver em seus olhos a serenidade
De seus lábios sugar o néctar
E cobrir-me com sua voz doce e suave ao dizer-me: vem...
A noite nos vela
E nos leva além que possamos entender
O que queres de mim, é o que posso te dar.
Fugir não quero.
Aceito-te também.
Meus olhos se entregam
Dou-te o beijo
Digo boa noite
E sigo feliz.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

[ningúm]

No balanço do mar
A brisa das boas vibrações
Os bons ventos trazem o que eu quero dizer
O que eu quero sentir
A menina desbotada se foi
Eis-me aqui, furta cor!
A mais lúcida das figuras
Que destoa da ilusão
Pela confiança que me faz fluir
São as verdades
Essa sinceridade
A cada mergulho, a redescoberta
O prazer de te ter
E que me faz sentir
Sou você e você sou eu
Um único tom
Um ímã virtual
Um bem querer, sem saber porque
Apesar do ego
Há vontade de te ter
Sentir seu som
Degustar teu cheiro
Tatear você
Entregar-me a ti
Voltarmos a ser um só
Como outrora quiseram nos tornar.

domingo, 17 de janeiro de 2010

[índia]

Nem bem a vi e nem tão pouco a conheço,
mas sei que sabes de mim, em algo que escrevo e descrevo.
Sua silhueta numa foto só mostrando seu sorriso
seus cabelos negros como os de nossos ancestrais índios.
Sua mente às vezes brilha
suas palavras são conscientes
e eu só queria ser índio também e sentir como você sente.
O calor de nossos irmãos espalhados pela natureza.
as tribos nos jardins do coração
e onde quer que estejam
são o povo do criador, são a majestosa beleza
e você é india...
dona dessa natureza
e da pele que desejo nos meus braços...
pele que desejo com carícias em pensamento,
sou eu vão ou vago em meu cortejo
mas verdadeiro quando tento
descrever algo que não vi completamente...
mas do pouco que me vem a mente
já cabe dizer que me contento.
Sei que em algum lugar, você olha pela janela
e vê a noite pairar
nisso a lua também a vê
e toca sua pele,
iluminando onde quero eu tocar
resplandecendo o que é tão seu...
como identidade tatuada,
na cor imaculada
do seu brilho ancestral
pela noite iluminada...

17.01.2010

sábado, 16 de janeiro de 2010

[liberdade]

Venho de um lugar escuro
onde as palavras são ralas e o vazio quase sempre reina.
A paz do silêncio de fato reflete o velar de uma guerra,
uma foto fria de sorrirsos emoldurados na monocromia desse quadrado.
Meu som eclode no isolamento acústico de minha solidão.
Está impregnado em mim
em minhas raízes e em meus passos.
Meus pulsos amarrados tentam se soltar.
Mas a prisão perdura, perdura, perdura.
Sem fim.

[sunshine]

Sou feita de pó
Ao simples sopro me perco ao ar
Divido-me ao invisível, ao imperceptível
Como sou diante seu olhar
Por mais que lhe grite
Não me vê
Não me sente
Não me quer
Acabou
Desbotou
Amargou
O sino não mais badala
Somente a sombra me abraça
Foste tu
Ao negar-me um beijo
consigo levou o calor que fazia essa Flor sonhar
ao buscar você.