segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

[segredos]

Estás aí
Tão distante de mim
Aconchegante aqui só calor do seu olhar
Esses olhos tão ressacados
Enterrados nas lamúrias de minhas poesias
Frisson
Na firmeza incerta que isso tudo me causa
No aflorar da minha libido descoberta
Vem cá!
Fique aqui, diga que me quer
Mande pra lá essa interrogação
E traga-me as reticências
Deixe-me gozar nesse infinito
E quando ao ápice chegar
Solte ao vento aquelas coisas
Que nos fazem ser nós
Daqueles cegos
Sem volta
Para que o amanhã nunca mais volte a ser ontem
E o hoje retorne sempre ao fim.

[soneto da frustração]

Pinga chuva devagar
Pra essa terra refrescar
Pinga chuva rapidinho
Que o calor tá de matar

O céu grande me aprontou
Quando a chuva preparou
Animado me encontrei
Agora desce de uma vez!

Mas a chuva desbandou
Coitada pra mim
"O tempo fechou!"

E no mormaço vou definhar
Por causa dessa chuva
Que teima em despingar.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

[poema]

Você está em mim
Como flor manifestada
Pra ti não existe tempo
Ele se vai
Se esvai
Foge das mãos
Pra ti estou aqui
Por ti me encontro assim
Estática
Sem tempo
Sem pressa
Sem fim.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

[Flor do Sol]

As flores da vida se escondem
As flores dos dias se ajoelham
Perante a mais linda flor de todas
As flores do mundo se curvam
.
Todas as flores com todos os cheiros
E todas as cores de todos os momentos
Contemplam a beleza máxima
Dessa flor vindas de outros tempos
.
Enquanto a mim? Sou um qualquer
Escolhido apenas para obedecer.
Sou como um peixe num anzol
.
Entregue de presente, me sinto um arrimo
E perante a sua beleza me ínfimo
Tão linda nesse jardim essa Flor do Sol

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

[cara-pálida]

O que queres de mim?
Ao falar assim comigo
Me paralisa com tuas palavras
Rouba-me a voz
Quando insinua teu desejo
Desperta-me
Instiga-me
Esse Poeta que arranca-me longos e encantados suspiros
Aceita-me aí
Como permito-te aqui
Nos meus delírios, onde te ouço pela leitura e te sinto assim
Sem bem saber
És outrora colorido
Como o sorriso de uma criança
Um viajante vagando entre as curvas do meu corpo
Entre as raízes do meu eu
Que me espia pela janela
Com seu olhar dilacera
E leva-me ao longe
Perco-me o azul
Emerjo no seu sorriso
Mais uma noite que por mim clama: índia!
É mais um dia que espero por ti.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

[Na teia da predadora]

Hoje ela chegou de mansinho
Discreta
Reservada
Meus olhos percorreram aquela tez parda
O semblante modesto estampado no rosto
Óculos na face circunspecta
Vestido ajuizado de moça “direita”

Inocentemente, confiei no meu domínio
Poder sobre a mente dela
Minha lascívia, sonhei, era sem paralelos
Vou corrompê-la
Perverter
Adulterar
Chocar
Mostrar este outro mundo que ela não conhece
Vou tê-la submissa à minha libertinagem

No meu anseio incontrolável por prazer
Motivado pelas chamas que tomaram corpo e mente
Abati minhas garras perversas sobre a mente da presa
Uma proposta lancei, em minha concupiscência
Aguardando a óbvia recusa daquela idéia suja
Mas a reveladora sagacidade do sorriso desvendado
A malícia arrebatadora daquele olhar de meretriz no cio
A partir dali eu sabia
Deixei de ser caçador, virei caça
À mercê da libido de uma fêmea irreprimível

De posse de minha mente
Senhora dos meus desejos
Ela me pôs entorpecido
Ludibriou mais uma vítima
Deixou a outra enganada
Julgando que era a única em sua teia
Colocou-me na posição de voyer
Usou a nós dois como objetos
Reféns daquela obscenidade
Consumidos pelo gozo violento
Vê-la se divertindo às nossas custas
A inocência cândida da outra, iludida
E o meu choque, notando do que ela foi capaz
Gravando à ferro e fogo em minha memória
A devassidão daquele gesto

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

[a ninfeta]

Na pronfudeza da inocência
A menina se mostra voraz
De sua tão tenra idade
Emerje um vulcão de que expele desejo
Apêlo por ele
Insanidade fulgaz
De onde não podem fugir
Tampouco camuflar esses olhos negros que, de tão profundos
Fazem esquecê-lo a sensatez
E querer se jogar no abismo que são seus braços
Mergulhar na morenitude daquela tez
Do prazer descrito aos sussurros
Na voz doce de menina-moça
Querendo mais
Pedindo bis
Clamando por ele
"Voltei a ti! Sou sua outra vez!"
Os delírios desse rapaz, tornaram-se concretos
Mas delírios, são delírios.
A realidade mostra-se como luz velada às cortinas
Arde os olhos ao abrí-las
E a candura daquela outra
Desvanda-se em veneno
Abstrai-se em mentiras
Derruba sua fortaleza
Tornando esse homem num recanto de amargura, descrença e solidão
Como nunca quisera ser
E jamais imaginara erguer.

[Furto da cor.]

O vai e vem da cidade
O calor abafado de uma manhã nublada
A pressa das pessoas
À chegar a um lugar desconhecido.

Uma parada na esquina
Um instante prum cigarro
Esse ônibus que não vem...

Nessa cidade onde tudo é verde
Hoje deu uma trégua ao mormaço
Acalentando o ardor do amarelo
Cobrindo minha tristeza de cinza
Refletindo a escuridão do meu interior.

Ouço essa música
Para afundar ainda mais na melancolia
Assim quero estar.

E com isso, a tarde se esvai
Levando a esperança
E, enfim, mais um dia sem cor.